sábado, 4 de julho de 2015

SURDO MUNDO

Há bastante tempo quando li pela primeira vez o livro Terapia, do David Lodge, encantei-me com sua escrita irônica e divertida. Não sabia de modo algum tratar-se de um escritor/acadêmico ou acadêmico/escritor. Depois disto passaram por minhas mãos o Verdades Secretas e também Invertendo os Papéis, nenhum deles teve qualquer impacto em minha vida de leitora. Livro errado, no momento errado? Talvez! Ainda assim, não resisti quando tempos/anos atrás descobri este Surdo Mundo em uma das gôndolas da Saraiva, e acabei por trazê-lo para casa para juntar-se à pilha de livros por ler. E como um dos critérios adotados ultimamente é ler os livros que quero mandar embora (eu sei não é um bom modo de se escolher um livro para ler, mas fazer o que! Preciso dar espaço para coisas novas e mais apetecíveis), retirei este livro do Lodge das prateleiras em abril. 


CHEIO DE GRIFOS
Começo achando o livro divertido, mas com muita coisa para refletir/pensar/ruminar. E eis que uma personagem, me faz torcer o bico para o livro e a partir daí a má vontade impera. Pensei: talvez deva pular todas as partes em que a dita cuja aparece (afinal um dos direitos do leitor é o de pular páginas, e não sou é que digo é o Daniel Pennac em seu Como um romance, aliás recomendadíssimo). Tentei convencer-me de que a história era do Lodge, não minha, então não tinha que dar pitaco. No fim devolvi o livro à prateleira e passei para outras coisas mais palatáveis.  Mas, novamente pensando em mandar o livro embora retiro-o da estante e dou continuidade à leitura.
Mas, aí a coisa fluiu. Não, não foi uma leitura fácil. Lodge começa com um tom irônico e por vezes divertido, que ao longo da narrativa assume um estilo lúgubre e deprimido. Mas, que tem sua razão de ser. Ao final chego à conclusão de que foi muito bom não ter desistido dele. 
Se você como eu topar com esse livro sugiro que não desista, e não deixe ler os agradecimentos, são bem esclarecedores.

PS: a narrativa alterna a primeira e terceira pessoas, inicialmente faz com que o leitor (eu) perceba o quanto é diferente o que um personagem fala (primeira pessoa), e o que narrador fala, depois isto acaba passando para o segundo plano. 
Me fez pensar em Dom Casmurro, e se a narrativa fosse em terceira pessoa, ou narrador fosse a Capitu, como seria a história?

Me incomodou de diversas maneiras os trechos com a estudante universitária, primeiro porque  eu a achei chata, depois porque sempre estava mais instigada a saber sobre o Surdo Mundo do que o que aconteceria com a aquela personagem que me parecia ter caído de paraquedas na história. Lembra dos tais agradecimentos finais? Foram bem esclarecedores também sobre isto. [05.07.2015]


Grifos:
Você não me parece muito feliz, disse ele.De fato, não estou. Com um pai senil e uma esposa que me ignora, eu não tenho como estar
 A surdez é cômica, a cegueira é trágica 


Título:  Surdo Mundo  
Autor:  David Lodge 
Editora: L&PM
Pág: 325 
Leitura: 19/04 02/07/2015 
Sinopse: Desmond Bates está ficando surdo. E a crescente incapacidade de distinguir os sons não faz outra coisa que não seja gerar confusão - para ele e para todos à sua volta. O que seria um acontecimento dramático na vida de qualquer um toma, neste caso, contornos irônicos. A existência desse privilegiado e entediado inglês se vê ameaçada quando Alex, uma atraente e desequilibrada aluna de graduação, faz ele prometer que a ajudará com sua tese. Porém, ela parece buscar seu apoio também para questões não tão acadêmicas - Ou seria tudo um grande mal-entendido? Em seu 13º romance, David Lodge coloca em cena um homem de meia-idade tentando se apaziguar com a surdez e com a proximidade da morte, com a comédia e a tragédia inerentes à vida humana. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário