domingo, 19 de julho de 2015

FELICIDADE

Um dia vi um livro de capa bonitinha nas mãos de um amigo. Quando comentei não conhecia aquele, ele disse: todo mundo deveria ler este aqui.  Curiosa eu? O que você acha? Anos depois, muitos, muitos anos depois eis que me chega às mãos este Felicidade aqui. Encontrado por acaso nas prateleiras da biblioteca. 
Não sei se todo mundo deveria ler, ou se todo mundo iria gostar. Eu diria que é encantador, revelador, instigante. Mas, como tenho um gosto um tanto ou quanto às avessas, tenho certeza que meu comentário não vai ser levado a sério. (rs)

O livro me parece mais com um diário, o diário de um  escritor já maduro (idade mesmo) e que nos apresenta suas reflexões sobre a arte da escrita, as reminiscências que compõem o seu dia a dia.  Em muitos momentos me lembrou do Walden de Thoreau, em outros lembrou-me dos escritos de Mario de Andrade para Fernando Sabino, que me encantaram tanto  e tão recentemente. Olhando, a ficha catalográfica vejo que a editora o classificou como contos, e eu diria que são memórias... mas ela é a editora, então!

Neste Felicidade descubro um pouco mais do Hesse, que seu escrito predileto foi o Peregrinação, e não o Sidarta ou O jogo das contas de vidro como eu poderia imaginar, e que nos conta: 
É o papel  em que um dia se imprimiu um de meus livros prediletos, Peregrinação. O que ainda resta desse livro foi destruído pelas bombas americanas, desde então ele não existe mais, anos a fio comprei a qualquer preço todo exemplar que aparecesse  em algum antiquário, e vê-lo reeditado é hoje um dos poucos desejos que me restam. 
Que se identificava com André Gide 
Naquele tempo, instigado pelo livro de Curtius, surgiu e firmou-se  em mim o amor  por aquele escritor sedutor que tratava seus problemas , tão semelhantes aos meus, de um modo bem diferente (...) Passei a ler tudo que conseguia obter dele, e com o tempo li quase todos os seus livros duas ou três vezes...
e admirava o autor. E um dia recebe, para sua surpresa e alegria,  uma cartinha deste mesmo Gide contando de sua admiração por ele e que o agradou muito particularmente
Depois de longo tempo quero lhe escrever. Essa ideia me atormenta: que um de nós possa deixar esta terra sem que o senhor saiba de minha profunda simpatia por cada um de seus livros que li. Entre todos, Demian e Knulp me fascinaram. Depois aquele delicioso e misterioso Viagem ao Oriente e por fim o Goldmund, que ainda não terminei -  e que saboreio lentamente, temendo terminá-lo muito em breve. Os admiradores que o senhor tem na França (e eu recruto novos incessantemente) talvez ainda não sejam muito numerosos, mas tanto mais ardentes. Nenhum deles mais atento e devotado do que, 
André Gide.
Um livro encantador. E que eu talvez nunca lesse  não houvesse guardado carinhosamente o comentário daquele amigo e não fosse a existência de bibliotecas, afinal o livro é esgotado. 

Gosto particularmente de:

  • Descrição de uma paisagem
  • Horas na escrivaninha
  • Lembranças de André Gide
  • Velhice

Grifos:


Título: Felicidade
Autor: Hermann Hesse
Pág: 157
Editora: Record
Leitura:  12 a 18/07/2015

Sinopse: Um autor refletindo sobre o cotidiano e o ofício de escrever. Este é o Hermann Hesse de 'Felicidade'. Contista, poeta, ensaísta e editor de importantes obras da literatura alemã, Hermann Hesse mostra nas pequenas histórias deste livro - escritas entre 1947 e 1961 - sua casa, os pequenos cômodos, a paisagem de sua janela, as flores, sua gata, o armário com diferentes tipos de papéis que, mais do que insumo para suas obras, eram retratos de seu estado de espírito.

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